24 de fev. de 2013

"Só eu vejo o mundo com meus olhos."
(Zeca Baleiro)
-
E eles ontem viram mundos diferentes.

20 de fev. de 2013

SURPRESA

E logo eu, que não sou (não era?) dada a interações com crianças (elas me inibem)
vejo-me, de repente, encantada.
Que surpresa-reação boa :)


13 de fev. de 2013

MORANGOS MOFADOS AOS MEUS PÉS

Eu só consigo pensar:
"Ironia, ironia, ironia!".
Mentira, eu consigo pensar em muito mais coisas.
Minha cabeça é um vulcão, um turbilhão, sei lá, qualquer coisa por onde passem muitos pensamentos.
Morangos mofados aos meus pés, hoje, exatamente hoje.
Ironia! Ironia! Ironia!
Tudo de uma vez só...

7 de fev. de 2013

CHOVENDO

Eu queria mais dias de chuva bem-vinda
e menos desses, em que ela só me irrita e me faz lembrar de todo aquele blábláblá
sobre frustração e sobre anseios e sonhos e desejos e, principalmente, sobre utopias.


5 de fev. de 2013

SOZINHA

pra onde foi tudo isso que eu vejo nas fotos?
eu era o seu docinho
olha só, dois bebês, tão novinhos!
olha só nossos olhinhos: somente pertenciam a nós.
os meus eram todos seus e vice-versa.
olha como sorríamos felizes!
e mais sorrisos, tão sinceros...
você é tão bonito, leãozinho.
muita coisa.
TRECHOS DO LIVRO 
AGORA É QUE SÃO ELAS
PAULO LEMINSKI


(...) o fatal é que cheguei e disse aquilo, aquele palavrão que significava a irremediável intromissão da minha vida na vida daquela figura.
Mulher tem que ser abordada com vinte e cinco canhões de bolhas de sabão (...)
Inteligência em homem é que nem pau duro, mulher alguma resiste.
E tudo empalideceu, como, como é que foi mesmo que eu não dei pela ausência de Norma, aquela coisa gostosa entre as mulheres, sorvete reinando sobre meu reino de prazer com um morango por coroa?
(...) meu Deus, como a memória é solúvel em álcool!
Engoli, mandando meu coração voltar para as profundezas donde tinha emergido, que lugar de coração é lá embaixo.
A gente se foi a primeira vez numa porção de coisas. Sei lá que importância isso tem, mas as pessoas tendem a atribuir virtudes mágicas às primeiras vezes. Seja lá do que for. E assim primeiras vezes fomos, Norma e eu, muitas primeiras vezes.
Desde que comecei minha história com Norma, nunca mais um dia de sossego.
- Com por que é mais caro, e só depois das cinco.
Era a origem de todos os males da pele, do intestino e da cabeça. O mundo ia muito bem até nascer o porquê. E foi me dizendo logo de cara, se eu queria atingir alguma coisa tinha que me livrar desse vício.
No começo, é difícil. Sem por quê, viver, arrastar esses dias, um atrás do outro, é subir uma escada sem corrimão, entrar pelado no mar, andar no mato de olhos fechados, dormir ao relento e sem cobertas. Mas, enfim, a gente acaba se acostumando a qualquer coisa. Me acostumei a viver sem perguntar por quê. E a só frequentar as questões periféricas, como?, quando?, onde?
Um dia, sonhei com ele. No sonho, era o dono de um bar, onde eu chegava e perguntava:
- Tem cerveja?
E ele respondia.
-Não.
- Tem certeza?
- Também não.
Um saco esses papos que a gente ouve nessas festas, meros pretextos para praticar em voz alta o nome dos povos, as feéricas notícias de jornal, esse saber que pensa saber tudo apenas porque sabe o que todo mundo sabe.
Durante um tempo, cheguei a pensar que o tal Bernardo não existia, não passava de uma figura imaginária, um ente de razão operacional, inventado por Norma para manter, pela competição, o meu interesse aceso nela.
Não me interpretem mal, nunca soube o que quer dizer ciúme. Afinal, não se pode chamar assim esses ímpetos que me vêm, de vez em quando, de botar Bernardo para derreter em azeite fervendo.

Oi, tesão, e esse pau, continua durão?

De noite, me perguntou onde eu queria dormir. Com você, é claro, eu respondi. É por isso que eu adoro você, ela falou. Mas faz tua cama aí nesse canto, eu durmo aqui no sofá mesmo, legal pra você?
- Norma, que é que está acontecendo? Que história é essa? Vamos conversar um pouco. Onde é que foi parar tudo aquilo que havia?
- Tudo aquilo, o quê?
- Ora, você sabe, não se faça de boba.
- Você deve estar louco. Nunca houve nada entre nós.
- Essa não, Norma. Invente outra.
- Se houve, prove.
Eu não podia provar nada. A única evidência que eu tinha de que TINHA HAVIDO ALGUMA COISA ENTRE NÓS, esse nó no peito, essa sensação de que tinham colocado uma rolha no gargalo do meu coração, e essa vontade de apertar seu pescoço devagarzinho até fazer o cérebro sair pelas orelhas que nem bosta num moedor de carne. Ou bater nela com um maço de notas de mil, até ouvir ela gritar Bernardo. Uma navalha, por favor.

Belo começo pra um candidato à sabedoria, nem sabia como conseguir o que os galos, os antílopes e até os polvos conseguem sem maiores histórias.
Insuportável, aliás, que a razão de ser da minha vida fosse outra pessoa, pessoa, por sinal, que eu estava longe de saber dominar, quem dera!, se, pelo menos, a influenciasse.

- Você não deixar as diferenças existir!
- Existir, não, professor. Existirem.
- Está bem. Não deixar as diferenças existirem!
- Não, professor, ainda não. Não deixa as diferenças existirem.
- VOCÊ NÃO DEIXA AS DIFERENÇAS EXISTIREM!

Parecia que nada ia adiante. TUDO TINHA MUDADO, está certo. Mas tudo só mudava do parado para o parado. Minha relação com Norma passava meses sem que acontecesse nada. Não era o pior dos nadas, podia haver piores. A gente se via, até fizemos algumas coisas, mas nada podia disfarçar aquele cheiro de queimado, a gente cultivando aquela falta entre nós, duas pessoas cuidando juntas da mesma planta carnívora.

Pensei que ia morrer de tanto amor, Norma estava divina.

E tudo aquilo que lhe contei sobre a minha primeira relação com uma mulher, aquela que estava menstruada, lembra?, e eu tirei o pau e pensei que a tinha matado?

Nessas altura, o professor, comovido, já estava deitado no meu colo, soluçando, e eu fiquei alisando seus poucos cabelos brancos, e dizendo:
- Calma, calma, meu velho. Tudo vai se arranjar, você vai ver. A vida não é tão péssima assim, veja tudo com olhos de criança, pense positivo, o pior já passou, o Natal está aí, e o amor até existe.
Quanto mais eu falava, mais o velho soluçava no meu colo, soluçava tão convulsivamente que, temendo alguma fratura grave, levantei um joelho, no joelho levantando a cabeça de Propp, como quem retira uma azeitona de dentro da sopa. E espinafrei:
- Qual é, cara? Vai ficar nessa a noite toda? Pensando o quê? Que meu colo é banco de praça?

- Tem uma coisa que eu não te contei ainda.
Tiro de carabina na minha orelha esquerda, facada nos rins, soco de enfarte, agulha de derrame cerebral, bem-vindos! Por que é que Norma tinha que vir, de vez em quando, com aquele, com aquela, com aquilo, tem uma coisa que eu não te contei ainda? Vai ver era por isso que eu vivia com aquela sensação pavorosa de que alguma coisa horrível ia acontecer a qualquer momento.

As coisas que eu sinto hoje estão além das palavras.

E começou a chorar, coisa que eu detesto. A gente não sabe o que fazer. Dar um soco na nuca? Chamar os bombeiros? Gritar "o senhor é meu pastor, vamos pastar?".

- A cada dia que passa as coisas vão ficando cada vez mais complicadas, à medida que o tempo vai passando, passando, passando, vão se complicando ainda mais, mais e mais. É por isso que as pessoas morrem, morrem, morrem. Morrem porque não aguentam mais tamanha complicação, complicação, complicação.

a alma só cresce
quando se machuca

- São assim, Propp falou, tentando me consolar da expressão de absoluta calamidade pública que tinha desabado em cima da minha cara.
- O que é que são assim?, ainda achei forças de perguntar.
- As coisas.
- Ah! As coisas! Claro, as coisas são terríveis, gani, enquanto olhava em volta, procurando alguém que eu pudesse cortar a golpes de gilete.

Eu não quero a vida eterna, professor. EU QUERO O INFERNO.


3 de fev. de 2013

Pages

Pages - Menu

Popular Posts

Categories

.

Minha foto
medo, desejo, bom som, silêncio, barulho de chuva, doce, papeis, anotações, dobraduras, presentes, fotografia, laços, bolinhas, sei lá, reticências.

Blogger news

Blogroll

Blogger templates